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O que é o Trotskismo e por que o reivindicamos

Por que somos trotskistas? Esta é uma pergunta constantemente feita ao PCO, e é válida, dado que o Partido não se parece com os demais grupos que se dizem “trotskistas” do Brasil, muito menos com os stalinistas.

O PCO não se parece nem um pouco com a esquerda “trotskista”, pois ela não é trotskista. Ela é uma esquerda de classe média que defende uma política identitária e, em diversos assuntos, pró-imperialista. Ela é a antítese do que acreditamos e queremos. A IV Internacional, após a morte de Trótski, se desmontou e o que sobrou não se parece nada com ele.

Nesse sentido, o debate sobre trotskismo e stalinismo não se trata de um debate historiográfico, de definir quem estava certo quase cem anos atrás. Trata-se de resolver várias polêmicas que marcaram a história do movimento comunista e que nos perseguem até hoje. O debate vai desde uma disputa sobre qual é a natureza do Estado Operário, como ele deveria funcionar, até como fazer a revolução, como enfrentar o fascismo, se é preciso colaborar com a burguesia ou não etc.

Como seguidores de Leon Trótski, defendemos as ideias de Marx, Engels, Lênin e defendemos o programa histórico dos comunistas. As inovações que Lênin e Trótski apresentaram no campo teórico e estratégico foram apenas uma pequena atualização em questões menores do marxismo. Neste sentido, ser trotskista é ser o comunista nos dias de hoje.

Vamos explicar brevemente alguns pontos que definem posições nossas, e do trotskismo:

  1. Defendemos que o proletariado é a classe que fará a revolução, que a revolução proletária deverá, em países atrasados, promover simultaneamente o desenvolvimento de tarefas do capitalismo e do socialismo, de uma só vez. Isto foi o que fez Lênin, que garantiu direito ao voto, reforma agrária e outras tarefas do capitalismo enquanto expropriou a burguesia, uma tarefa do socialismo.
  2. Defendemos a teoria do imperialismo de Lênin. Completando-a: o desenvolvimento dentro dos países pobres é desigual e combinado. Há cidades no Brasil que parecem, em vários aspectos, cidades de países desenvolvidos, como São Paulo e Rio de Janeiro. Nestes lugares, as fábricas funcionam como em países ricos. Há lugares no País que parecem o Afeganistão. Isto cria uma contradição: o proletariado dos grandes centros é forte como o de um país desenvolvido, a burguesia de conjunto, que se sustenta no atraso nacional, é fraca.
  3. Esta disparidade entre a classe proletária facilita a revolução em países atrasados, ainda que dificulte o seu desenvolvimento em seguida da revolução, por conta do atraso nacional. Isto está provado pelas revoluções que ocorreram no século XX. Apenas ocorreram em países pobres, e nunca alcançaram os países capitalistas em desenvolvimento tecnológico geral. Estes três pontos são centrais para a chamada teoria da Revolução Permanente.
  4. Acreditamos que o socialismo, como Marx e Lênin nos ensinaram, é um estado de capacidade produtiva superior ao do capitalismo. Que a reorganização destas relações de produção é apenas possível de forma total num marco internacional. O capitalismo é um sistema internacional de produção. Napoleão, através da baioneta, tornou o capitalismo internacional, a União Soviética não conseguiu o mesmo com o socialismo. Lênin concordava com isso, por isso, no congresso do Partido em 1918, disse: “a revolução na Europa é a nossa salvação”.
  5. Defendemos que a União Soviética nunca atingiu o socialismo. Que foi freado num estado transitório, contraditório. Onde a relação de produção é socialista, ou quase, mas a capacidade do país não é a de um país socialista, não é nem de um país capitalista pleno. Veja que a URSS nunca chegou ao nível dos EUA, ou da Alemanha, França e Japão levando em conta a proporcionalidade de tamanho dos países.
  6. Defendemos a ditadura proletária, seja ela na URSS, em Cuba, Coreia, ou em qualquer outro lugar, incondicionalmente. Defender o regime da ditadura do proletariado sobre a burguesia não significa defender a política de governos destes países, com os quais temos concordâncias e discordâncias. A classe operária não é o seu governo em lugar algum. A sua ditadura também não é a ditadura de nenhuma camarilha ou indivíduo.
  7. Mantemos que o governo de Stálin era uma ditadura cruel, e que a ditadura de Stálin foi, fora exceções episódicas, uma ditadura contra o regime da ditadura do proletariado. Denunciamos que uma burocracia, um setor da classe média e outras classes expropriou o controle político da União Soviética deixando um país que economicamente o trabalhador governava, pois não havia propriedade privada, mas em que a administração desta propriedade e da política do país havia sido roubada.
  8. Não defendemos uma democracia genérica na URSS. Há momentos e momentos na luta. O governo de Lênin foi como o de Robespierre, sangrento, numa guerra interminável para acabar com a resistência da burguesia. Trótski, pela maior parte do tempo, foi o executor da guilhotina bolchevique.
  9. O terror bolchevique de Lênin era contra a classe dominante e em defesa da revolução. O terror de Stálin era contra o povo e o partido, para manter uma ditadura contrarrevolucionária.
  10. Seguindo a tradição de Lênin, defendemos que o partido da classe operária, em países capitalistas, não deve participar de governos burgueses mesmo de esquerda. O proletariado deve ser independente. Nos opomos às frentes amplas, populares ou qualquer outra forma de colaboração de classes.
  11. Defendemos, frente a uma ameaça do fascismo e da direita, o dever de unificar as correntes populares da esquerda numa frente única de ação da classe trabalhadora contra o fascismo. Defendemos unidade na hora de agir contra a direita nas ruas, mas nunca uma unidade de programa e ideias com a esquerda capitalista. “Marchar separados, atacar juntos”, disse Trótski. 
  12. Defendemos, como Trótski e Lênin, que o proletariado tenha todos os direitos políticos e democráticos possíveis sob o capitalismo. Defendemos estes direitos incondicionalmente. Quanto mais fraco for o Estado, mais rapidamente a revolução virá.
  13. Defendemos a autodefesa das massas, a formação de comitês operários para defesa, num grande movimento de luta contra a direita e o fascismo. Defendemos o armamento do povo, sem o qual não há revolução.
  14. Defendemos um partido comunista, revolucionário. Que fale abertamente a que veio, que defenda a revolução proletária como a de Lênin e Trótski. Defendemos o centralismo-democrático, um partido governado pela sua militância, uma militância que seja parte do movimento de massas. O lema organizativo neste sentido é: democracia na decisão, unidade total de ação.

Para os que não conhecem Trótski, é preciso citar alguns fatos históricos. Veja alguns detalhes sobre ele:

  1. Trótski era um líder de massas e um grande orador. Ele foi presidente do Soviete de Petrogrado durante as revoluções de 1905 e 1917. Durante 1917, ele era considerado o maior orador da revolução. Sendo enviado para os locais mais difíceis para convencer os operários da insurreição.
  2. Ele era um jovem revolucionário. Começou a militar na clandestinidade com menos de 18 anos, aos 19 ajudou a formar o Sindicato de Trabalhadores do Sul da Rússia, ele foi preso nesta idade, passando o resto da vida como militante revolucionário.   Vai se tornar líder do Soviete na revolução de 1905 com apenas 26 anos de idade. Ele era, na prática, o líder desta revolução. Em 1917 tinha apenas 38 anos, e foi peça chave da insurreição.
  3. Da revolução até a morte de Lênin, a direita se refere aos bolcheviques com a frequente frase: “Lênin e Trótski”. Ele era o braço direito de Lênin durante este período todo.
  4. Trótski é considerado como o arquiteto prático da revolução; no momento em que a coisa é decidida, é ele que assume a sua execução.
  5. Ao tomar o poder, ele é encarregado de negociar a paz com os alemães, a tarefa mais importante daquele momento.
  6. Ao negociar a Paz com os alemães, começa a guerra civil. Trótski é escolhido para formar o exército e comandar o esforço de guerra. É a nova tarefa mais importante do momento.
  7. Ele fundou o Exército Vermelho com cinco milhões de homens a partir do nada. Cria uma nova forma de agitação de guerra. Sua tática militar combinava pura tática militar, agitação interna com as tropas e uma campanha entre a população. O Exército Vermelho vai derrotar exércitos russos e de 14 países estrangeiros. É um milagre militar.
  8. Em seu testamento, Lênin faz críticas a vários membros do partido, propõe tirar Stálin da Secretaria Geral, critica Trótski também: diz que ele é muito autoconfiante e às vezes muito zeloso com a questão organizativa em lugar de algumas questões políticas. Ele também, no entanto, o declara o mais capaz dentro do Comitê Central.
  9. Para muitos ele era o sucessor natural de Lênin. Ele vai, depois, reconhecer que Lênin estava integralmente correto nestas críticas, ele diz que considerava Lênin seu professor, ele discordava de tempos, como todo bom aluno, era crítico e livre-pensante, mas acaba reconhecendo a realidade sem reservas.
  10. Ele era uma pessoa extremamente rígida e metódica. Relatos da época contam que o Comissariado da Guerra era o ministério mais organizado da União Soviética, que seu trabalho organizativo era invejável, contam que ele nem gostava que se fumasse em reuniões.
  11. Trótski durante a guerra civil assinou milhares de ordens de fuzilamento de soldados e oficiais de patente do próprio exército. Ele não as assinava de graça, mas não hesitou em usar a ferramenta da corte marcial durante a guerra. Eles tinham pouca tolerância para deserções, saques, abusos e outras medidas tradicionais de exércitos com a população local.
  12. Em determinado ponto ele estabeleceu a pena de morte para quem desse informes falsos de que regimentos haviam sido corajosos onde haviam sido covardes. Ele era um inimigo da falsificação. Ele acreditava que era preciso dizer a verdade, por mais dura que fosse, para ter autoridade para falar qualquer coisa.
  13. Em determinado momento, como comandante de todo o exército, ele lidera um ataque a cavalo, levantando o moral da tropa, sendo neste sentido, era um homem de coragem e liderança pelo exemplo.
  14.  Curiosamente, ele era considerado por Stálin e seus apoiadores como sendo muito rude e rígido, Stálin seria o “conciliador”.
  15. Diante da ditadura de Stálin, ele propõe convocar um congresso, sua visão era que o partido tinha que ser chamado ao debate, ele acreditava na militância, no partido e no seu espírito revolucionário acima de tudo. Os stalinistas negaram o chamado à militância.
  16. Ele foi expulso do Partido, exilado, seus aliados foram presos e torturados. Até 1933, seis anos após sua expulsão, ele exige que seja respeitado o centralismo democrático, algo que ele considerava sagrado, exige que Stálin reconheça a oposição como parte do partido, que ela seguisse a política da maioria, mas que eles tivessem direito de debater as posições e tentar convencer a maioria, isto foi negado. Ele era, antes de tudo, um homem de partido.
  17. Ele rompe após pensar que o partido seria incorrigível por dentro, não se mexendo depois do desastre da subida de Hitler. Que seria preciso fazê-lo por fora. Sua lealdade final era, no entanto, com a classe operária. Se o partido não iria lutar por ela de forma alguma, era preciso outro partido.
  18. No final da sua vida, ele tem atritos grandes no movimento trotskista porque um setor achava que não deveria defender a União Soviética incondicionalmente. Ele leva o debate às últimas consequências, rompendo com este setor. Detalhe: Stálin havia tentado matá-lo mais de uma vez, matou seu filho, levou sua filha ao suicídio, fuzilou seus companheiros de partido e havia julgado Trótski em absêntia, condenando-o à morte, como contrarrevolucionário. Ele nunca mudou de posição, sempre foi crítico de Stálin, mas a defesa da revolução era inegociável e sua ideologia não estava sujeita a mudanças de natureza moral ou emocional.
  19. Ele foi assassinado por Stálin após 13 anos de exílio. É, para nós, o maior mártir da luta comunista.
  20. Em seu túmulo, hoje, estão a bandeira da União Soviética e a foice e o martelo, um símbolo da sua vida.

O trotskismo é o marxismo dos dias de hoje. Seu arcabouço teórico é apropriado para as tarefas do proletariado, é científico, coerente. A história de Trótski é um exemplo para todos os revolucionários. A envergadura da sua luta e importância histórica dela tornam imperativo reivindicar esta bandeira para todos os revolucionários. A biografia de Trótski e sua ideologia não parecem com a esquerda pequeno-burguesa; ambas, no entanto, encontram um herdeiro legítimo em nosso Partido.

Somos trotskistas porque somos comunistas, defendemos a revolução proletária. Rejeitamos o stalinismo pela sua natureza contrarrevolucionária e, de fato, anticomunista. Diferenciamo-nos dos “trotskistas” do Brasil, pois somos nós que defendemos o legado de Leon Trótski e não aceitamos imitações baratas.