É próprio da esquerda pequeno-burguesa abandonar os princípios revolucionários que diz acreditar. O identitarismo, ideologia imperialista infiltrada na esquerda, acentuou essa característica. Quando se volta a falar sobre temas relativos à sexualidade, a esquerda se afasta tanto do marxismo revolucionário que defende concepções opostas ao que defendiam os marxistas.
O problema da liberdade sexual é um exemplo desse afastamento da esquerda das ideias marxistas.
A classe média de esquerda, influenciada pelos vícios burgueses, costuma concluir que o marxismo é a favor do “amor livre”. Tal “liberdade” deve ser concebida, para eles, como a liberdade de copular com quem quiser, a hora que quiser. Essa, porém, não é a concepção marxista, tampouco é uma liberdade de fato.
A ideia que sintetiza bem o que pensa a esquerda pequeno-burguesa foi apresentada pela revolucionária russa Alexandra Kollontai: satisfazer o instinto sexual é tão simples e tão insignificante como beber um copo de água, afirmava.
Polemizando com essa ideia, Lênin explicou que tal teoria não é marxista, além de ser antissocial. Ele explica, de maneira simples, que “será que um homem normal, em condições igualmente normais, se deitará no chão, na rua, para beber água suja de um lameiro?” (Lênin e o Movimento Feminino, Clara Zetkin).
Friedrich Engels, um dos fundadores do marxismo, em seu livro A Origem da Família, da propriedade privada e do Estado, explica que não é a poligamia (um homem com várias mulheres), nem a poliandria (uma mulher com vários homens) o futuro da sociedade comunista. Para Engels, a evolução da humanidade para a família monogâmica é um progresso ou, mais precisamente, um progresso relativo como são em geral os fenômenos históricos:
“A monogamia foi um grande progresso histórico, mas, ao mesmo tempo, iniciou, juntamente com a escravidão e as riquezas privadas, aquele período, que dura até nossos dias, no qual cada progresso é simultaneamente um retrocesso relativo, e o bem-estar e o desenvolvimento de uns se verificam às custas da dor e da repressão de outros.”
Sob o capitalismo, ou seja, na sociedade de classes, a monogamia ganha formas de exploração da mulher pelo homem. No entanto, diz Engels, na sociedade comunista, quando desaparecem as relações de propriedade, a “preponderância do homem no matrimônio é consequência evidentemente de sua preponderância econômica e desaparecerá por si mesma com esta última”, o matrimônio baseado no amor sexual será, por sua própria natureza, monogâmico e “a igualdade alcançada pela mulher, a julgar por toda a nossa experiência anterior, influirá muito mais no sentido de tomar os homens monógamos do que no de tornar as mulheres poliandras”.
Essa forma monogâmica, portanto, não terá a forma jurídica atual da sociedade capitalista, mas será uma forma nova. Continua Engels: “mas a duração do acesso de amor sexual é muito variável, segundo os indivíduos, particularmente entre os homens; em virtude disso, quando o afeto desaparece ou é substituído por um novo amor apaixonado, o divórcio será um benefício, tanto para ambas as partes como para a sociedade. Apenas deverá poupar-se ao casal o ter que passar pelo lodaçal inútil de um processo de divórcio”.
Se podemos falar em liberdade sexual, o marxismo compreende isso conforme explicado acima. É a liberdade do homem e da mulher estabelecerem relações baseadas de fato no amor real. É anti-marxista, como explicou Lênin e como mostra cientificamente os estudos de Engels, a ideia de que a tendência da humanidade seria adotar qualquer forma de promiscuidade sexual, como defende a esquerda pequeno-burguesa e que, na realidade, é um retrocesso no sentido da escravização da mulher e, por consequência, do homem.